Agora

Lilian Santana

15:00 - 17:00

Notícia

Caso juiz Edward: decisões de magistrado com nome falso podem ser anuladas? Especialista e

Juiz de São Paulo é acusado de usar identidade falsa por mais de 40 anos .
Caso juiz Edward: decisões de magistrado com nome falso podem ser anuladas? Especialista e

O caso de um juiz aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo que usou um nome falso por mais de 40 anos e "enganou quase a totalidade das instituições públicas", segundo denúncia do Ministério Público, levanta questionamentos sobre a validade das decisões que ele tomou durante 23 anos na magistratura.

Especialistas e investigadores apontam que pode haver contestações na Justiça por parte de pessoas que se sentiram prejudicadas por algumas das milhares de decisões do magistrado.

O juiz Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, de 67 anos, virou réu na Justiça paulista na última segunda-feira (31) sob acusação de ter praticado os crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso.

Quem é o juiz?

 

De acordo com a acusação, a identidade verdadeira dele é José Eduardo Franco dos Reis, nascido em 16 de março de 1958 em Águas da Prata (SP).

Em 1980, ele tirou pela primeira vez o RG com o nome inventado — que mais tarde ele diria ser proveniente da nobreza inglesa. Ao mesmo tempo, manteve em dia seus documentos com o nome verdadeiro.

Segundo a investigação da Polícia Civil de São Paulo, o juiz tinha dois RGs, dois CPFs, dois títulos de eleitor e passaporte com o nome de Wickfield, além de outros documentos com dados falsos, como carteira de trabalho e certificado de reservista.

Usando a identidade criada por ele, Reis estudou direito na Universidade de São Paulo (USP), onde se formou em 1992, prestou concurso para juiz e tomou posse em 1995.

 

Decisões podem ser contestadas?

 

O juiz "Wickfield" atuava na área cível, decidindo sobre disputas entre consumidores e empresas, ações contra jornalistas, questões de família, entre outros assuntos. Aposentou-se em abril de 2018 como juiz da 35ª Vara Cível do Fórum João Mendes, no centro de São Paulo.

 

"Materialmente, esse juiz cursou a faculdade, foi aprovado. Depois, fez um concurso, uma prova para a magistratura, ele mesmo, com os seus conhecimentos, e tem essa questão de uma troca de nome. Mas, materialmente, o conhecimento necessário, os requisitos necessários para o exercício do cargo, estão preenchidos", disse ao Fantástico a professora de direito penal da FGV-SP Raquel Scalcon.

 

 

Para ela, as decisões proferidas pelo juiz devem ser mantidas. No entanto, o caso pode gerar discussões porque não há precedentes conhecidos.

 

"Acho que é bom que se coloque que pode haver opiniões diferentes nesse sentido, que alguém entenda que o ato de nomeação dele como juiz estaria maculado porque há o uso de um nome falso", observa.

 

Os questionamentos sobre as decisões poderiam se agravar se a USP cassasse o diploma de "Wickfield" por causa do uso de identidade falsa para se matricular no curso. Um dos requisitos para ser juiz é ser bacharel em direito.

A percepção na USP, porém, é de que o caso ocorreu há muitos anos para gerar punições agora.

 

Como o caso foi descoberto?

 

Segundo a polícia e o Ministério Público, a farsa começou a desmoronar em 3 de outubro de 2024, quando o juiz foi ao Poupatempo Sé, no centro de São Paulo, tirar uma nova via do RG em nome de Wickfield.

As impressões digitais dele foram coletadas e comparadas eletronicamente no banco de dados da Polícia Civil. Essa comparação apontou indícios de que havia duas pessoas com marcas idênticas.

Os investigadores, então, passaram a analisar os documentos dessas duas pessoas e descobriram ser uma só.

Na análise documental, os investigadores notaram que as certidões de nascimento de Reis e de "Wickfield" tinham o mesmo número de registro no mesmo cartório do município de Águas da Prata, mas o restante dos dados era diferente.

 

Reis nasceu em 16 de março de 1958; "Wickfield", em 10 de março daquele ano. Reis é filho de Natalina e José; "Wickfield", de Anna Marie Dubois Vincent Wickfield e Richard Lancelot Canterbury Caterham Wickfield.

 

O cartório informou aos policiais que a certidão de nascimento de Reis está registrada no local, mas a de Wickfield não existe.

Enquanto os investigadores aprofundavam as análises sobre a suspeita de duplicidade, o sistema do Poupatempo foi bloqueado automaticamente e impossibilitado de emitir uma nova via do RG de Wickfield.

 

O juiz, então, foi informado de que deveria ir ao Instituto de Identificação para regularizar a situação — o que é praxe nos casos de suspeita de duplicidade, porque o sistema eletrônico pode se enganar.

 

Trabalho como artesão e 'irmão gêmeo'

 

Ao chegar ao instituto em 2 de dezembro de 2024, o juiz foi interrogado pelo delegado Raphael Zanon da Silva. Ali, ele se apresentou como José Eduardo Franco dos Reis e disse trabalhar como artesão.

Afirmou também que Wickfield é seu irmão gêmeo, que foi dado para adoção ainda criança. Segundo essa versão, Wickfield cresceu na Inglaterra, procurou Reis quando ambos já eram adultos e veio passar uma temporada no Brasil.

Reis, então, teria ido ao Poupatempo para solicitar um RG para o suposto irmão gêmeo, que seria um professor, e não o juiz. Ele não explicou, contudo, por que resolveu utilizar suas impressões digitais para tirar o documento para o suposto irmão, uma vez que mesmo irmãos gêmeos têm digitais diferentes.

 

Denúncia

 

A história não convenceu os investigadores. No final de fevereiro deste ano, o Ministério Público denunciou Reis pelos crimes.

A denúncia se refere somente a fatos mais recentes, como a tentativa de tirar RG com nome falso em outubro passado, porque os supostos crimes praticados no passado já prescreveram — ou seja, não há mais como o Estado punir Reis pelos episódios antigos.

 

 

Fonte(s): https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/04/07/caso-juiz-edward-decisoes-de-magistrado-com-nome-falso-podem-ser-anuladas-especialista-explica.ghtml

Comentários

Últimas notícias

08 Mai
Pioneira FM
Quem é o novo Papa? Conheça Robert Francis Prevost, o Leão XIV, sucessor de Francisco

Prevost tem 69 anos, nasceu em Chicago e trabalhou na América Latina.

08 Mai
Pioneira FM
Sinos do Santuário Nacional de Aparecida badalam celebrando escolha do novo papa

Fumaça branca saiu da chaminé da Capela Sistina na tarde desta quinta-feira (8), indicando que foi definida a escolha do novo papa, que será

08 Mai
Pioneira FM
Habemus Papam: fumaça branca sai da chaminé da Capela Sistina, e Igreja Católica elege nov

Sinal foi emitido na tarde desta quinta-feira (8), o que significa que pontífice foi escolhido na quinta votação geral dos cardeais

Esse site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar o acesso, você concorda com nossa Política de Privacidade. Para mais informações clique aqui.